domingo, maio 10, 2009

Oasis: fórmulas, chuva e rock’n’roll de 1ª

É difícil você escrever sobre a banda da sua vida com imparcialidade. Não é impossível, mas requer um certo desapego que poucos conseguem ter. Por isso, não me candidatei para a cobertura do show do Oasis, ontem, em São Paulo, no jornal em que trabalho. Queria apenas curtir a apresentação daquela banda que, há três anos, mantém o título de melhor live act que eu já assisti. Depois do (puta) show, confesso que meus dedos coçavam para redigir o texto, contar para todo mundo o que vi, pensar num título, abertura e encerramento a altura para a reportagem... mas apenas dei uns toques para a repórter que estava com essa deliciosa tarefa. E não foi o bastante, me rendo. Preciso falar mais. A seguir, meu testemunho:

Liam, sempre f***. Foto: G1

Um show de rock pode ser um tanto previsível. Alguns artistas se recusam a mudar o repertório e todas as noites mostram as mesmas músicas, na mesma ordem, com a mesma duração. É o caso do Oasis, uma das bandas mais amadas e odiadas da história da música. Os irmãos Gallagher – que uma vez já disseram serem maiores que os Beatles – costumam repetir a dose por meses. Para alguns conjuntos, isso não funciona e os shows se tornam cansativos; para o grupo de Manchester, ocorre o inverso: o set list sob medida parece ter alcançado a equação perfeita para uma noite de rock’n’roll e a fórmula não se desgasta. Foi assim ontem, no Anhembi, para mais de 30 mil pessoas.

(Quase) Todos os clássicos estavam lá – de Rock’n’Roll Star, do primeiro e aclamado disco, Definitely Maybe (1994), a Lyla, do penúltimo álbum, Don’t Believe The Truth (2005). Todas as boas músicas do novo CD, Dig Out Your Soul (2008), também. Se Liam Gallagher não é um grande vocalista ao vivo, suas falhas são compensadas pela presença de palco que falta a muitas “maior promessa da última semana” que surgem constantemente na cena roqueira britânica.

E os fãs brasileiros – que o vocalista diz serem os melhores, apesar de não estarem tão animados naquela noite de chuva – estão entre os poucos que quebram a impassividade do Gallagher caçula diante das multidões. Foi assim nas últimas duas passagens do Oasis pelo País, e ontem não poderia ter sido diferente. Nas palavras de Liam: “vocês foram incríveis, como sempre”. Nada mal para o mal criado do rock, que contou recentemente que não fala mais com seu irmão Noel (“só o necessário”).

O Gallagher mais velho também dá seu show à parte – seja em uma improvisação nas guitarras durante os minutos finais de I Am The Walrus, para fechar o show, ou mandando beijo para a fã da primeira fila. Houve também uma discussão com alguém que jogava algo no palco, e o guitarrista chegou a ameaçar parar o show. Mas passados alguns minutos (e cessado os ataques), o clima voltou ao normal.

Não havia uma grande produção. A apresentação do Oasis ocorre sob um fundo preto, que algumas vezes ganha um jogo de luzes mais elaborado e telões. Mas com um repertório que já vendeu 50 milhões de discos e execução quase perfeita, o grupo garante o valor do ingresso.

E se alguns conjuntos se negam a tocar as músicas lhe deram fama, no Oasis isso não existe. Você pode esperar que Wonderwall, Champagne Supernova e Don’t Look Back In Anger estarão lá, em todas as turnês – em versões cada vez melhores.

O único ponto negativo do set list (e talvez do show) foi a exclusão de Live Forever, provavelmente o segundo maior hit da banda. Numa noite em que Liam não se cansava de elogiar o público, se a chuva não tivesse castigado tanto poderia haver espaço (e energia) para pedir a música mais vezes entre os intervalos da apresentação. No Japão isso funcionou. Aqui, alguns tentavam gritar alguns versos do clássico, mas logo paravam. Em 2006, penúltimo show em São Paulo, de tanto que pediram Supersonic, a canção foi incluída no bis. De qualquer forma, ontem era visível que Noel notava o pedido, mas seguia o script. Afinal, o jogo já estava ganho.

Ao final, os irmãos Gallagher deixaram (separadamente) o palco aplaudindo os fãs. Algo inimaginável para um dos grupos mais egocêntricos e megalomaníacos do rock, que durante a década de 1990 não se cansavam de repetir que não davam a mínima para ninguém. Hoje, os exageros foram deixados de lado e música está em primeiro plano para o Oasis. Amém.