Nos últimos meses, um tal de Barack Obama surgiu na imprensa internacional e dominou o noticiário político. No começo desse mês, ele se tornou o candidato do Partido Democrata à Casa Branca. Aí você se pergunta: por que há tanta atenção em torno das eleições americanas e, mais especificamente, nesse sujeito que até pouco tempo atrás ninguém sabia que existia?
A resposta está no fato dele ser um jovem senador negro que resolveu enfrentar duas forças em esferas opostas, mas igualmente poderosas: um dos clãs políticos mais poderosos dos Estados Unidos e a questão do preconceito racial histórico. Ele ganhou dos dois lados, e de brinde pode dirigir a nação mais importante do planeta.
Durante 16 meses, esse nome meio árabe, meio africano, desafiou a senadora-celebridade Hillary Clinton. Mulher do também estrela e ex-presidente Bill, ela tinha tudo para levar a indicação da legenda e disputar a Presidência pelos democratas: era conhecida, tinha apoio, dinheiro e contava com um marido que durante seus oito anos de governo comandou o partido. Alguém acreditava que aquele senadorzinho de Illinois poderia vencer? Hillary não.
No final do ano passado, a também senadora loira pelo importante Estado de Nova York - que sempre foi um fênomeno nas urnas, reelegendo-se para o Senado em 2004 como uma das mais votadas - chegou a abrir 20 pontos de vantagem sobre o alguma coisa Obama. Por que ele ainda tentava?
Quando começaram as eleições primárias em janeiro deste ano (uma série de votações internas dos partidos que podem decidir a nomeação presidencial), a ex-primeira dama começou a se preocupar. Logo na primeira, em Iowa, Obama - que já liderava na arrecadação de fundos - venceu. Pouco depois, John Kerry (o democrata hype que Bono Vox, Bruce Springsteen e Madonna apoiaram na eleição presidencial de 2004), anunciou seu endosso ao senador. Era só o começo da Obamamania.
Pouco a pouco, aquele jovem negro havaiano, que passou a infância brincando na Indonésia e visitando a avó no Quênia, se tornou um fenômeno e a maior dor de cabeça para os Clintons. Ganhando apoio tanto de personalidades americanas - como a família Kennedy - quanto dos cidadãos que garantiam a vitória nas urnas, sua candidatura se tornou realidade durante os seis meses de primárias.
Hillary bateu o pé, atirou para todos os lados e quase dividiu o Partido Democrata. Enquanto isso, os rivais republicanos (o partido do presidente George W. Bush) riam a toa. A indicação presidencial deles - John McCain - já estava certa e os democratas se degladiavam naquelas intermináveis prévias.
Mas não teve jeito - aquele era o momento de Obama, e nem os discursos da loira explorando a inexperiência do rival e os próprios "erros" de sua campanha conseguiram derrubar a candidatura.
De antemão, ele já fez história: é o primeiro afro-americano a concorrer à Presidência dos EUA. Barack Hussein Obama ganhou popularidade e projeção mundiais, e nem as questões de ser negro em uma sociedade de preconceito velado, ter sobrenome árabe numa nação onde Oriente Médio é sinônimo de terrorismo e concorrer com uma quase popstar impediram sua vitória.
É certo que o desejo pela mudança que predomina nos EUA - e slogan da campanha do democrata - ajudou, mas nem por isso sua candidatura tem menos mérito. Agora, nos resta aguardar os próximos capitulos e torcer por Obama nas eleições gerais de novembro. Afinal, sejamos francos: quem não quer ver um Hussein Obama (trocadilhos com 'Osama' à parte) sentado na cadeira de Bush?